terça-feira, 24 de abril de 2012

Primeiras Letras - A menina e o Sonho

Venho de uma família humilde, pais semi-alfabetizados. Em minha casa nunca faltou material escrito, como livros escolares(de minhas irmãs mais velhas), revistas e gibis. Como naquela época criança ainda podia trabalhar, elas ganhavam material impresso das patroas, e, assim, elas levavam para casa aquelas coisinhas que eu considerava verdadeiros tesouros . Eu tinha por volta de 5 anos de idade e era louca por livros. Como não sabia ler, passava horas distraindo-me com os desenhos...imaginava histórias, o que as pessoas estariam falando às outras. Pelas imagens, deduzia se era uma família, se eram namorados ou amigos. Tinha encantamento em tudo, em toda e qualquer imagem. As letras, eu as ignorava, porque com elas não podia imaginar...sabia que tinha 'mistérios' ali, mas como decifrá-los? Lembro-me de pedir exaustivamente às minhas irmãs para lerem para mim, mas como elas eram mocinhas, se interessavam por outras coisas. Para meu azar, as bonitonas não gostavam de ler e eu não entendia uma coisa: como elas sabiam ler e não se interessavam? Achava isto inacreditável, pois minha vontade era tanta... Então, lembro-me de meu pai lendo silabicamente a historinha do Super Mouse para mim. (Ele já é falecido, mas se fecho os olhos consigo 'ouvir' sua voz, a entonação, o esforço dele para ler e me agradar, tadinho). De certa maneira, como ele não dominava muito bem a leitura, não era tão atraente para mim ouvir a historinha contada daquele jeito, porém, a vontade de saber o que estava escrito ali era tão grande, que isto ficava para um segundo plano. Além do mais, ele era a única pessoa que quando podia, me fazia este favor, :-). Diferente do que foi relatado por alguns colegas, lembro-me quando consegui ler por mim mesma minha primeira frase. Estava sentada no chão da sala, encostada no sofá, quando li algo em minha Caminho Suave. Fiquei EN-CAN-TA-DA por esta mágica! Como havia conseguido aquilo? Como eu conseguira ler 'longe' da professora, por mim mesma? Não tinha ciência de que havia sido alfabetizada. Li algo sobre o bebê...'O bebê baba'. Quando pude decodificar a ação do bebê, percebi que os livros podiam relatar coisas mesmo simples, do dia a dia. Não tenho trauma da minha Caminho Suave, de maneira alguma. Se a tivesse até hoje, estaria guardadinha com todo o carinho. Independentemente de ideias pedagógicas ou de alfabetização, não posso deixar de amar o livro o qual fiz minha primeira leitura. Daí para o universo da leitura , foi só um pulinho e devo confessar:leio de tudo, até as letrinhas miúdas de um contrato, ;-).

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